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terça-feira, 22 de março de 2011

Dia Mundial da Água

Uso racional da água é questão de sobrevivência

Por: valéria sinésio

Hoje é o Dia Mundial da Água, mas não há muito motivo para comemoração. Preocupação, talvez, seria a palavra mais adequada. O uso irracional do líquido precioso já vem refletindo há algum tempo na vida da população – e se agrava. A situação da Paraíba não difere muito do restante dos estados nordestinos.  A escassez pode trazer sérios riscos em pouco tempo, como o aumento das tarifas e o racionamento.
Segundo a Defesa Civil Estadual, 174 dos 223 municípios sofrem com a falta de água e estão inscritos no programa do governo federal para abastecimento por carros-pipa.  A entrega é feita pelo Exército Brasileiro, mas segundo o coronel Walber Rufino, da Defesa Civil não há caminhões suficientes para entregar água aos moradores que sofrem com a escassez. O problema, apesar de grave, não é novo nem exclusivo da Paraíba. “Os convênios são feitos entre a prefeitura local e o governo federal”, afirma o coronel.
O abastecimento de água fica a cargo do 15º Batalhão de Infantaria Motorizado (15º BIMtz), 16º Regimento de Cavalaria Mecanizado (16º RCMec) e do Batalhão de Campina Grande. “É importante frisar que a falta de água na Paraíba, como no Nordeste, é um problema antigo, por isso, tantas músicas que falam sobre a seca”, declara. O coordenador diz que todos os esforços estão sendo feitos para minimizar os efeitos da falta de água no Estado, sobretudo nos municípios onde há abastecimento por carros-pipa.
O comandante do 15º BIMtz, tenente-coronel Umberto Ramos, explica que tem a responsabilidade de abastecer 51 municípios paraibanos. A quantidade de água entregue em cada uma das cidades depende diretamente de quantas pessoas vivem nas localidades. “A regra é de 20 litros de água por dia para cada pessoa”, declara. O último dos municípios a pedir abastecimento de carro-pipa foi Alagoa Grande, conforme o tenente. “Abastecemos duas mil cisternas que atendem em média 200 mil pessoas”, frisa.
Quando a população não presta informação correta sobre a quantidade de pessoas, a disputa por água se torna ainda mais crítica. Porém, há outro problema que agrava a situação. “A falta de recursos é a grande dificuldade que temos”, revela o tenente. Inclusive, o abastecimento de água pelo 15º BIMtz está ameaçado esta semana, pois os recursos não tinham sido enviados até sexta-feira passada. O valor mensal que deve ser repassado ao Exército para a Operação Carro-pipa é de R$1,1 milhão, mas, dificilmente, o valor chega integralmente.
O problema não atinge apenas as cidades do interior. Em João Pessoa, a falta de água virou rotina em alguns bairros. “Todo dia aqui é a mesma coisa. A gente liga a torneira, mas não tem água, só pressão”, diz a dona de casa Avani Santos, que mora no bairro do Valentina. Sem alternativa, os moradores acordam de madrugada para encher baldes e garantir o almoço e o banho do dia seguinte. O que mais revolta os moradores é a certeza de que a conta de água sempre vai chegar.
Na semana passada, por exemplo, o abastecimento de água foi interrompido em 20 bairros da capital e na praia de Costinha, em Lucena. Moradores de Jaguaribe, Centro, Varadouro, Róger, Tambiá, Alto do Céu, Padre Zé, Salinas Ribamar, Porto de João Tota e Vem-Vem, ficaram sem água das 8h às 19h. Já nos bairros da Torre, Jardim 13 de Maio, Boa Vista, Ipês, Mandacaru, Verdes Mares, Expedicionários, Tambauzinho, bairro dos Estados e Pedro Gondim, a população ficou sem água por mais de seis horas.
A aposentada Lourdes Alencar, que mora em Cruz das Armas há 16 anos, conta que já se acostumou com a falta de água. “É praticamente todo dia, e quando isso não acontece, consideramos um milagre”, explica. Manaíra, Tambaú e São José também se tornaram localidades onde a falta de água é frequente.
PROBLEMA
Em nota divulgada, ontem, o presidente da Cagepa anunciou medidas para reduzir o problema.  Entre as ações previstas estão a eliminação de perdas na produção, reativação de poços artesianos, retirada de vazamentos na rede de distribuição e a instalação de novos hidrômetros para combater o desperdício. De acordo com o presidente da companhia, Deusdete Queiroga, as medidas começarão a surtir efeito nos próximos 60 dias. “Algumas ações já começaram e outras serão colocadas em prática a partir de agora. O objetivo é acelerar os serviços para evitar mais transtornos à população”, disse. Sobre a constante falta de água ele explicou: “Ocorre que a capacidade de produção de água das estações de tratamento da Cagepa chegou ao limite. A relação entre oferta e demanda é praticamente igual e isso tem comprometido o sistema”, afirmou.
O presidente da Cagepa disse ainda que o abastecimento em João Pessoa não deveria estar enfrentando problemas, se a obra do sistema adutor Abiaí-Papocas, iniciada em 2008, estivesse concluída. “Encontramos essa obra paralisada e ela é de fundamental importância para garantir a segurança do abastecimento de água na capital e em Bayeux, Cabedelo e parte de Santa Rita. Como se trata de uma obra financiada com recursos do Governo Federal, o Governo do Estado está tentando destravá-la”, explicou.
Dados repassados pelo órgão em julho do ano passado, revelaram que o índice total de perda é de 29,7% do total fornecido por mês. Esse percentual daria para abastecer toda a Paraíba. Em abril do ano passado, a Cagepa informou que o fornecimento de água nas 181 cidades atendidas, chegou a 65 milhões de metros cúbicos. O desperdício é de aproximadamente 19,3 milhões de metros cúbicos de água. O consumo ideal, segundo a média elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU), é de 3,3 metros cúbicos de água por mês.

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